A continuidade dos negócios é essencial para qualquer organização, independentemente do seu tamanho ou setor de atividade. No entanto, muitas vezes, as empresas confundem dois conceitos importantes relacionados com a proteção dos seus ativos e atividade: o Plano de Continuidade de Negócios (PCN) e o Programa de Seguros.
Embora ambos visem minimizar os danos financeiros e operacionais em caso de incidentes, funcionam de forma distinta e cada um oferece vantagens específicas.
Passamos então a expor as principais diferenças destas duas abordagens.
Um Plano de Continuidade de Negócios (PCN) é um conjunto de estratégias, procedimentos organizados e escritos para garantir que as operações essenciais de uma empresa possam continuar mesmo após interrupções imprevistas. O objetivo principal do PCN é minimizar o impacto de eventos disruptivos, como desastres naturais, avarias de máquinas, falhas de IT ou ausência não programada de pessoal.
José Miguel Baptista
Diretor – Enterprise Risk Management & Engineering
O PCN envolve a identificação de riscos potenciais, a definição de tempos críticos de interrupção, a implementação de processos de recuperação e a definição de protocolos claros para assegurar a continuidade das funções críticas da organização. É fundamental para o sucesso de qualquer PCN a alocação de recursos necessários para restaurar rapidamente as operações essenciais e a realização periódica de testes.
Por outro lado, os Programas de Seguros de proteção de ativos visam compensar financeiramente a empresa em caso de danos patrimoniais resultantes de eventos imprevistos, podendo ainda haver a indemnização por parte da seguradora pela interrupção da atividade. Porém, tal só acontece caso a cobertura de Perdas de Exploração tenha sido contratada e sempre associada a um sinistro de danos patrimoniais coberto pela apólice. Por outras palavras, a cobertura de Perdas de Exploração não funciona de forma autónoma e isolada.
Ou seja, um programa de seguros não garante a continuidade das operações da empresa, mas oferece uma proteção financeira, ajudando a cobrir custos associados a danos materiais, perdas de interrupção da atividade e outros impactos decorrentes de eventos cobertos pela apólice.
O PCN e o programa de seguros desempenham papéis cruciais e complementares na proteção de uma organização, tendo cada um várias vantagens únicas. Por exemplo, o Plano de Continuidade de Negócios oferece:
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Um dos maiores diferenciadores de um PCN é o foco na prevenção e preparação. Enquanto programa de seguros oferece compensação financeira após um incidente, o PCN visa minimizar ou evitar completamente as interrupções da atividade. Com o planeamento adequado, a empresa pode identificar riscos e implementar medidas preventivas, como backup de dados, redundância de sistemas, formação de pessoal e protocolos de resposta a crises.
Isso significa que, ao ter um PCN bem estruturado, a empresa reduz significativamente a probabilidade de acionar o seu programa de seguros para cobrir os danos decorrentes de falhas operacionais ou desastres.
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O tempo de resposta é fundamental em qualquer cenário de crise. O PCN define ações específicas a serem tomadas imediatamente após a ocorrência de um incidente para restaurar as operações. Com processos de recuperação bem definidos, a empresa pode retomar suas atividades rapidamente, minimizando os danos financeiros.
Em comparação, as apólices de seguros exigem, geralmente, um processo mais demorado de avaliação de danos, negociação e pagamento da indemnização, o que pode deixar a empresa vulnerável no curto prazo. Além disso, nenhum programa de seguros cobre todos os danos a 100% havendo ainda outros que não são passíveis de transferência para o mercado segurador, por exemplo, perdas financeiras puras ou danos reputacionais.
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O PCN abrange todas as áreas críticas da empresa, desde sistemas de IT até recursos humanos e operações logísticas. O PCN permite que a organização continue a funcionar num nível mínimo de operação (previamente definido) mesmo durante crises. Por exemplo, se um sistema de IT falhar, o PCN pode prever a instalação de servidores redundantes ou a migração temporária para um sistema de backup.
Por outro lado, os programas de seguros cobrem aspetos específicos do risco não abordando diretamente a continuidade das operações da empresa, ou seja, há lacunas difíceis de preencher sem um PCN.
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Embora os programas de seguros ofereçam uma compensação financeira importante e por vezes vital, não cobrem perdas indiretas que podem afetar a continuidade do negócio, como a perda de reputação, perda clientes ou incumprimento de contratos comerciais. O PCN, por sua vez, ajuda a garantir que a empresa minimize essas perdas operacionais.
Por exemplo, numa crise de imagem causada por uma avaria numa das linhas produtivas, a reputação da empresa pode ser gravemente afetada pela sua incapacidade de fazer chegar os seus produtos ao mercado. O PCN pode incluir estratégias de comunicação de crise, como o uso de plataformas digitais para informar clientes e stakeholders, limitando o impacto reputacional, enquanto nenhum programa de seguros não cobre esses danos.
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Muitas sectores de atividade estão sujeitos a regulamentações rigorosas que exigem a implementação de PCN para proteger a continuidade das operações. Um PCN bem estruturado ajuda as empresas a cumprirem com essas exigências legais e a manterem a conformidade normativa como a Diretiva Europeia de Entidades Críticas (abrange as entidades críticas de setores como energia, transportes, banca, saúde, água potável, entre outros) ou regulamentações do setor financeiro, pois tais diplomas obrigam à elaboração de planos de resiliência que incluem o mapeamento de riscos e a implementação de planos de continuidade das atividades.
Além disso, o PCN pode evitar problemas legais na sequência de uma interrupção da atividade negócios, garantindo que a empresa continue a assistir os seus clientes e a manter os serviços/produtos a que contratualmente esteja obrigada.
Embora o PCN ofereça várias vantagens em termos de continuidade operacional, um programa de seguros também desempenha um papel importante e complementar a essa proteção, tais como:
Em suma, um Plano de Continuidade de Negócios oferece uma abordagem mais ampla, proativa e integrada para garantir a continuidade das operações e mitigar riscos. Em comparação, um programa de seguros oferece uma compensação financeira valiosa após um incidente, mas não garante a continuidade das operações nem a proteção contra riscos indiretos.
Portanto, ao invés de ver o PCN e o programa de seguros como soluções alternativas, as empresas devem vê-los como complementares. A simbiose entre um PCN robusto e um programa de seguros adequado proporciona uma proteção abrangente, cobrindo tanto a preparação para riscos quanto a compensação financeira necessária quando os danos ocorrem. Desse modo, qualquer organização estará mais bem posicionada para enfrentar crises e garantir a sua sustentabilidade a longo prazo.