Ir para o conteúdo principal
main content, press tab to continue
Artigo

A complementaridade entre um Plano de Continuidade de Negócio e um Seguro de Perdas de Exploração

Por José Miguel Baptista | 18 março 2025

A continuidade dos negócios é essencial para qualquer organização, independentemente do seu tamanho ou setor de atividade.
N/A
N/A

A continuidade dos negócios é essencial para qualquer organização, independentemente do seu tamanho ou setor de atividade. No entanto, muitas vezes, as empresas confundem dois conceitos importantes relacionados com a proteção dos seus ativos e atividade: o Plano de Continuidade de Negócios (PCN) e o Programa de Seguros.

Embora ambos visem minimizar os danos financeiros e operacionais em caso de incidentes, funcionam de forma distinta e cada um oferece vantagens específicas.

Passamos então a expor as principais diferenças destas duas abordagens.

Um Plano de Continuidade de Negócios (PCN) é um conjunto de estratégias, procedimentos organizados e escritos para garantir que as operações essenciais de uma empresa possam continuar mesmo após interrupções imprevistas. O objetivo principal do PCN é minimizar o impacto de eventos disruptivos, como desastres naturais, avarias de máquinas, falhas de IT ou ausência não programada de pessoal.

José Miguel Baptista

José Miguel Baptista

Diretor – Enterprise Risk Management & Engineering

O PCN envolve a identificação de riscos potenciais, a definição de tempos críticos de interrupção, a implementação de processos de recuperação e a definição de protocolos claros para assegurar a continuidade das funções críticas da organização. É fundamental para o sucesso de qualquer PCN a alocação de recursos necessários para restaurar rapidamente as operações essenciais e a realização periódica de testes.

Por outro lado, os Programas de Seguros de proteção de ativos visam compensar financeiramente a empresa em caso de danos patrimoniais resultantes de eventos imprevistos, podendo ainda haver a indemnização por parte da seguradora pela interrupção da atividade. Porém, tal só acontece caso a cobertura de Perdas de Exploração tenha sido contratada e sempre associada a um sinistro de danos patrimoniais coberto pela apólice. Por outras palavras, a cobertura de Perdas de Exploração não funciona de forma autónoma e isolada.

Ou seja, um programa de seguros não garante a continuidade das operações da empresa, mas oferece uma proteção financeira, ajudando a cobrir custos associados a danos materiais, perdas de interrupção da atividade e outros impactos decorrentes de eventos cobertos pela apólice.

O PCN e o programa de seguros desempenham papéis cruciais e complementares na proteção de uma organização, tendo cada um várias vantagens únicas. Por exemplo, o Plano de Continuidade de Negócios oferece:

  1. 01

    Prevenção e Preparação Proativa

    Um dos maiores diferenciadores de um PCN é o foco na prevenção e preparação. Enquanto programa de seguros oferece compensação financeira após um incidente, o PCN visa minimizar ou evitar completamente as interrupções da atividade. Com o planeamento adequado, a empresa pode identificar riscos e implementar medidas preventivas, como backup de dados, redundância de sistemas, formação de pessoal e protocolos de resposta a crises.

    Isso significa que, ao ter um PCN bem estruturado, a empresa reduz significativamente a probabilidade de acionar o seu programa de seguros para cobrir os danos decorrentes de falhas operacionais ou desastres.

  2. 02

    Recuperação Rápida e Eficiente

    O tempo de resposta é fundamental em qualquer cenário de crise. O PCN define ações específicas a serem tomadas imediatamente após a ocorrência de um incidente para restaurar as operações. Com processos de recuperação bem definidos, a empresa pode retomar suas atividades rapidamente, minimizando os danos financeiros.

    Em comparação, as apólices de seguros exigem, geralmente, um processo mais demorado de avaliação de danos, negociação e pagamento da indemnização, o que pode deixar a empresa vulnerável no curto prazo. Além disso, nenhum programa de seguros cobre todos os danos a 100% havendo ainda outros que não são passíveis de transferência para o mercado segurador, por exemplo, perdas financeiras puras ou danos reputacionais.

  3. 03

    Proteção Abrangente das Operações

    O PCN abrange todas as áreas críticas da empresa, desde sistemas de IT até recursos humanos e operações logísticas. O PCN permite que a organização continue a funcionar num nível mínimo de operação (previamente definido) mesmo durante crises. Por exemplo, se um sistema de IT falhar, o PCN pode prever a instalação de servidores redundantes ou a migração temporária para um sistema de backup.

    Por outro lado, os programas de seguros cobrem aspetos específicos do risco não abordando diretamente a continuidade das operações da empresa, ou seja, há lacunas difíceis de preencher sem um PCN.

  4. 04

    Redução da Dependência de Compensações Financeiras

    Embora os programas de seguros ofereçam uma compensação financeira importante e por vezes vital, não cobrem perdas indiretas que podem afetar a continuidade do negócio, como a perda de reputação, perda clientes ou incumprimento de contratos comerciais. O PCN, por sua vez, ajuda a garantir que a empresa minimize essas perdas operacionais.

    Por exemplo, numa crise de imagem causada por uma avaria numa das linhas produtivas, a reputação da empresa pode ser gravemente afetada pela sua incapacidade de fazer chegar os seus produtos ao mercado. O PCN pode incluir estratégias de comunicação de crise, como o uso de plataformas digitais para informar clientes e stakeholders, limitando o impacto reputacional, enquanto nenhum programa de seguros não cobre esses danos.

  5. 05

    Compliance

    Muitas sectores de atividade estão sujeitos a regulamentações rigorosas que exigem a implementação de PCN para proteger a continuidade das operações. Um PCN bem estruturado ajuda as empresas a cumprirem com essas exigências legais e a manterem a conformidade normativa como a Diretiva Europeia de Entidades Críticas (abrange as entidades críticas de setores como energia, transportes, banca, saúde, água potável, entre outros) ou regulamentações do setor financeiro, pois tais diplomas obrigam à elaboração de planos de resiliência que incluem o mapeamento de riscos e a implementação de planos de continuidade das atividades.

Além disso, o PCN pode evitar problemas legais na sequência de uma interrupção da atividade negócios, garantindo que a empresa continue a assistir os seus clientes e a manter os serviços/produtos a que contratualmente esteja obrigada.

Embora o PCN ofereça várias vantagens em termos de continuidade operacional, um programa de seguros também desempenha um papel importante e complementar a essa proteção, tais como:

  • Compensação financeira em caso de danos materiais ou perda de receitas associadas devido a interrupções imprevistas.
  • Cobertura de riscos que o PCN não pode resolver, como incêndios, inundações ou outros danos físicos aos ativos da empresa.

Em suma, um Plano de Continuidade de Negócios oferece uma abordagem mais ampla, proativa e integrada para garantir a continuidade das operações e mitigar riscos. Em comparação, um programa de seguros oferece uma compensação financeira valiosa após um incidente, mas não garante a continuidade das operações nem a proteção contra riscos indiretos.

Portanto, ao invés de ver o PCN e o programa de seguros como soluções alternativas, as empresas devem vê-los como complementares. A simbiose entre um PCN robusto e um programa de seguros adequado proporciona uma proteção abrangente, cobrindo tanto a preparação para riscos quanto a compensação financeira necessária quando os danos ocorrem. Desse modo, qualquer organização estará mais bem posicionada para enfrentar crises e garantir a sua sustentabilidade a longo prazo.

Autor


Director – Enterprise Risk Management & Engineering
email E-mail

Related content tags, list of links Artigo
Contact us