Artigo publicado no jornal Expresso a 18 de outubro de 2024
A remuneração é para os trabalhadores europeus o principal fator a influenciar a decisão de aceitar ou recusar uma oferta de emprego e até a sua manutenção na organização.
Mas em Portugal a realidade é diferente. Se é verdade que o salário conta no momento de aceitar uma oferta de emprego, não é ele que faz um trabalhador português ser ‘fiel’ ao seu empregador e recusar outras ofertas de emprego. O último “Global Benefits Attitudes Survey”, um inquérito às políticas de benefícios adotadas pelas empresas a nível global, elaborado anualmente pela consultora WTW, a que o Expresso teve acesso, mostra que 54% dos trabalhadores em Portugal mudariam de emprego exatamente pelo mesmo salário mas por melhores benefícios extrassalariais. O estudo da WTW tem por base um inquérito realizado a 45 mil trabalhadores de empresas do setor privado, de média e grande dimensão, em 29 países, entre janeiro e março deste ano. Em Portugal foram inquiridos 1002 colaboradores e o que os dados mostram é que para os portugueses o salário surge apenas na terceira posição dos fatores decisivos para a retenção (com 36% dos trabalhadores a indicá-lo como decisivo), sendo ultrapassado pela segurança no trabalho (49%) ou pela localização e características das instalações da empresa (40%).
No nosso país, aponta o estudo, 45% dos inquiridos referem que os benefícios são uma importante razão pela qual se mantêm na sua atual empresa. Mas mais de metade (54%) admitem que mudariam de empregador “se mantivessem um trabalho semelhante, com o mesmo nível de compensação, mas com uma melhoria substancial ao nível dos benefícios”.
Entre os fatores que para os profissionais portugueses são mais decisivos na ponderação sobre mudar de emprego ou permanecer na mesma empresa estão, por exemplo, as relações com as chefias (35%), os modelos de trabalho flexíveis (25%) ou os benefícios de saúde (21%).
E se os resultados do relatório não deixam dúvidas quanto à crescente importância que os profissionais atribuem aos benefícios extrassalariais, também demonstram que há margem para uma melhoria nas políticas seguidas pelos empregadores neste domínio. Segundo o levantamento da consultora, 44% dos trabalhadores em Portugal avaliam os benefícios oferecidos pela sua empresa como adequados às suas necessidades, sendo que a maioria dos trabalhadores (55%) não tem poder de decisão ou qualquer flexibilidade na escolha dos benefícios que lhe são oferecidos pelo empregador.
O estudo lança ainda um sinal de alerta aos empregadores nacionais.
O maior bem-estar dos colaboradores está associado a níveis mais elevados de retenção nas organizações, compromisso e produtividade. Contudo, “dos 13 países europeus que participaram neste estudo, Portugal é o país com maior peso relativo de colaboradores (um em cada cinco) com risco elevado ao nível do bem-estar”, aponta.
Cerca de 30% dos trabalhadores portugueses inquiridos referiram sentir-se esgotados com o seu trabalho, tendo uma probabilidade muito superior de não estarem comprometidos com a sua empresa. Por outro lado, aponta o relatório, 31% dos profissionais admitem enfrentar problemas financeiros que lhes causam stress e ansiedade e 40% vivem com o salário contado até ao fim do mês.