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Artigo

Os benefícios da transferência de risco climático

Artigo publicado no jornal Vida Económica a 20 de setembro de 2024.

Por José Miguel Baptista | 20 setembro 2024

Para muitas organizações, as condições meteorológicas, devido à correlação entre si e ao volume de vendas e/ou custos, criam volatilidade nos resultados financeiros.
Climate
N/A

Nos últimos anos o clima global tornou-se cada vez mais volátil e imprevisível, como demonstrado por condições meteorológicas atípicas e fora do comum.

Para muitas organizações, as condições meteorológicas, devido à correlação entre si e ao volume de vendas e/ou custos, criam volatilidade nos resultados financeiros. Por exemplo, mais precipitação nos meses de verão podem reduzir a procura nas cadeias hoteleiras; períodos de seca podem interferir em produções agrícolas.

Nas duas primeiras décadas do século XXI, segundo as estimativas publicadas pela organização Germanwatch, os fenómenos naturais extremos custaram à economia do planeta 2,56 biliões de dólares.

O risco climático apresenta-se como mais um risco que deverá ser gerido no sentido de mitigar as suas consequências. Uma vez que que não é possível ao Gestor de Risco desenhar planos de mitigação preventivos, que visem reduzir a sua frequência, restam as medidas de mitigação corretivas no sentido de minimizar o impacto financeiro no património da empresa.

José Miguel Baptista
José Miguel Baptista

Diretor – Enterprise Risk Management & Engineering

Para tal, existem soluções de transferência de risco que respondem a estas necessidades. Porém, e como para qualquer risco, antes de transferir há que estimar através de modelos analíticos as perdas máximas prováveis no sentido de otimizar essa mesma transferência.

A quantificação de perdas é possível graças a ferramentas de previsão dos riscos climáticos sobre o património ou investimentos futuros, das quais o modelo Climate Diagnostic da WTW é um exemplo.

O Climate Diagnostic é uma ferramenta de modelização global que utiliza dados e análises avançadas para demonstrar mudanças em riscos graves, como tempestades e inundações extremas, ou fatores de stress crónico, como o aumento do nível do mar e ondas de calor, utilizando múltiplas combinações de cenários climáticos e horizontes de tempo. A modelização mostra como estas mudanças podem afetar ativos específicos, permitindo aos clientes determinar a melhor forma de mitigar o risco nas suas carteiras de propriedades e localizações em todo o mundo. Por outras palavras, é possível estimar áreas de risco elevado, localizar ativos individuais e identificar o impacto relativo de cada perigo.

Estas informações são preciosas para decidir quais os riscos de maior impacto, a sua evolução temporal e, assim, procurar as soluções de transferência de risco mais ajustadas às necessidades de cada organização.

Para responder aos novos desafios introduzidos pelos riscos climáticos, o mercador segurador desenhou soluções alternativas de transferência de risco que, por oposição aos seguros tradicionais, não fazem depender a indemnização por Perdas de Exploração da existência de Danos Materiais, não necessitam de peritagens no local (há que comprovar somente a ocorrência do fator gerador previamente definido na apólice) e, como tal, a gestão dos sinistros tende a demorar apenas alguns dias e não algumas semanas como por vezes acontece com os produtos de seguros tradicionais.

Em resumo:

  • Os programas paramétricos respondem aos movimentos indexados a um evento que à partida foi pré-definido ou à ocorrência desse mesmo evento;
  • Os sinistros são desencadeados se:
    • o valor do índice, durante o contrato, sofrer variações acima (ou abaixo) do valor acordado, ou
    • as características físicas do evento estão dentro do critério pré-acordado (e.g. localização e intensidade);
  • O montante do sinistro é calculado de acordo com uma escala de pagamento pré-acordada, e não por referência com a perda real, dano ou conceito de indemnização;
  • Os sinistros são pagos rapidamente após a ocorrência do facto gerador da apólice;

Para melhor ilustrar e este tipo de transferência de risco climático apresentamos um exemplo real.

Uma central hidrelétrica depende de um fluxo regular de água para operar as turbinas e produzir energia.

Foi desenhado um programa que responde a uma eventual redução na precipitação anual.

Com base na média anual acumulada de precipitação (1.800 mm) foi definido um intervalo entre

1.600 mm e 800 mm, sendo que é são indemnizados ao cliente USD 1.500 por mm abaixo de 1.600 mm.

A tabela seguinte mostra alguns dos efeitos mais conhecidos (existem, contudo, muitos outros) de condições meteorológicas adversas para alguns setores de atividade, para os quais é possível desenhar uma solução de transferência análoga ao exemplo acima.

Alguns dos efeitos mais conhecidos de condições meteorológicas adversas para alguns setores de atividade.
Setor de Atividade Exposição climática
Agrícola Seca, geada ou calor extremo danificam as colheitas e reduzem a produção
Turismo Precipitação excessiva ou frio provocam cancelamentos ou reduzem a procura
Energias Renováveis Falta de consistência de vento, água ou energia solar reduzem a capacidade de produção de energia
Retalho Condições climáticas imprevistas reduzem a procura de artigos sazonais

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Diretor – Enterprise Risk Management & Engineering
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