Artigo publicado no jornal Vida Económica a 20 de setembro de 2024.
Nos últimos anos o clima global tornou-se cada vez mais volátil e imprevisível, como demonstrado por condições meteorológicas atípicas e fora do comum.
Para muitas organizações, as condições meteorológicas, devido à correlação entre si e ao volume de vendas e/ou custos, criam volatilidade nos resultados financeiros. Por exemplo, mais precipitação nos meses de verão podem reduzir a procura nas cadeias hoteleiras; períodos de seca podem interferir em produções agrícolas.
Nas duas primeiras décadas do século XXI, segundo as estimativas publicadas pela organização Germanwatch, os fenómenos naturais extremos custaram à economia do planeta 2,56 biliões de dólares.
O risco climático apresenta-se como mais um risco que deverá ser gerido no sentido de mitigar as suas consequências. Uma vez que que não é possível ao Gestor de Risco desenhar planos de mitigação preventivos, que visem reduzir a sua frequência, restam as medidas de mitigação corretivas no sentido de minimizar o impacto financeiro no património da empresa.
Diretor – Enterprise Risk Management & Engineering
Para tal, existem soluções de transferência de risco que respondem a estas necessidades. Porém, e como para qualquer risco, antes de transferir há que estimar através de modelos analíticos as perdas máximas prováveis no sentido de otimizar essa mesma transferência.
A quantificação de perdas é possível graças a ferramentas de previsão dos riscos climáticos sobre o património ou investimentos futuros, das quais o modelo Climate Diagnostic da WTW é um exemplo.
O Climate Diagnostic é uma ferramenta de modelização global que utiliza dados e análises avançadas para demonstrar mudanças em riscos graves, como tempestades e inundações extremas, ou fatores de stress crónico, como o aumento do nível do mar e ondas de calor, utilizando múltiplas combinações de cenários climáticos e horizontes de tempo. A modelização mostra como estas mudanças podem afetar ativos específicos, permitindo aos clientes determinar a melhor forma de mitigar o risco nas suas carteiras de propriedades e localizações em todo o mundo. Por outras palavras, é possível estimar áreas de risco elevado, localizar ativos individuais e identificar o impacto relativo de cada perigo.
Estas informações são preciosas para decidir quais os riscos de maior impacto, a sua evolução temporal e, assim, procurar as soluções de transferência de risco mais ajustadas às necessidades de cada organização.
Para responder aos novos desafios introduzidos pelos riscos climáticos, o mercador segurador desenhou soluções alternativas de transferência de risco que, por oposição aos seguros tradicionais, não fazem depender a indemnização por Perdas de Exploração da existência de Danos Materiais, não necessitam de peritagens no local (há que comprovar somente a ocorrência do fator gerador previamente definido na apólice) e, como tal, a gestão dos sinistros tende a demorar apenas alguns dias e não algumas semanas como por vezes acontece com os produtos de seguros tradicionais.
Em resumo:
Para melhor ilustrar e este tipo de transferência de risco climático apresentamos um exemplo real.
Uma central hidrelétrica depende de um fluxo regular de água para operar as turbinas e produzir energia.
Foi desenhado um programa que responde a uma eventual redução na precipitação anual.
Com base na média anual acumulada de precipitação (1.800 mm) foi definido um intervalo entre
1.600 mm e 800 mm, sendo que é são indemnizados ao cliente USD 1.500 por mm abaixo de 1.600 mm.
A tabela seguinte mostra alguns dos efeitos mais conhecidos (existem, contudo, muitos outros) de condições meteorológicas adversas para alguns setores de atividade, para os quais é possível desenhar uma solução de transferência análoga ao exemplo acima.
Setor de Atividade | Exposição climática |
---|---|
Agrícola | Seca, geada ou calor extremo danificam as colheitas e reduzem a produção |
Turismo | Precipitação excessiva ou frio provocam cancelamentos ou reduzem a procura |
Energias Renováveis | Falta de consistência de vento, água ou energia solar reduzem a capacidade de produção de energia |
Retalho | Condições climáticas imprevistas reduzem a procura de artigos sazonais |