O mercado de produção automóvel nacional em dezembro de 2022 apresentou um crescimento de 25,1% face ao mês homólogo de 2021, pese embora, em termos acumulados, o crescimento no ano passado se tenha situado nos 11,2% face ao ano anterior, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
Apesar do mercado automóvel de novos veículos ter apresentado um crescimento face a 2021, ainda ficou muito abaixo comparativamente ao período da pré-pandemia. De acordo com Hélder Pedro, Secretário-Geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP): “Os dados que temos é que este sector ainda está 30% abaixo daquilo que era o volume de vendas pré-pandemia, 2019, sendo por isso o único sector que não recuperou.”
A expectativa é de que o setor não estabilize tão rápido como se possa esperar, e a produção nova de automóveis tem sido penalizada, e muito, por questões como a falta de semicondutores, que teve início com os constrangimentos da pandemia; a falta (aumento do custo) de matérias-primas como o aço, magnésio, paládio, néon e outros; e a crise energética.
Alguns destes efeitos já se sentiram durante o período mais crítico da pandemia, mas, com a guerra na Ucrânia, os constrangimentos nas cadeias de abastecimento só se agravaram, algo agora aliado a um contexto marcado pelo aumento da inflação.
Porém, a crise do setor que afeta a produção nova de automóvel tem vindo a permitir que outros setores, como o comércio de veículos em segunda mão, tenham aumentado e reforçado o seu destaque, dado que “a falta de viaturas novas é generalizada e atinge todas as gamas e marcas”, segundo Rodrigo Ferreira da Silva, Presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN).
Todos sabemos que os tempos de espera para receber um automóvel novo, sobretudo de gamas mais baixas, está hoje em níveis nunca vistos e a levar os clientes, que habitualmente adquiriam um automóvel novo, para os stands de usados, o que leva a um aumento da procura no comércio de veículos em segunda mão. Isto traduz-se numa oportunidade de crescimento deste mercado, contudo, quando há escassez, o preço aumenta e o efeito é visível: os automóveis seminovos estão a ser vendidos ao preço de automóveis acabados de sair da fábrica.
Tendo presente a crescente procura no comércio de veículos em segunda mão aliada a uma dificuldade em aumentar a produção nova automóvel, deu-se um fenómeno inesperado no setor: a subida acentuada do preço médio dos veículos seminovos e usados. “O normal de um carro usado é depreciar 10% a 15% de um ano para o outro. No último ano, o mesmo modelo, que deveria ter depreciado 15%, apreciou 20%”, conforme é referido pelo Roberto Gaspar, Secretário-Geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA).
Fruto deste fenómeno, e como consultores, aconselhamos que as empresas/ tomadores de seguro de apólices do ramo automóvel devam acautelar o impacto que possa ocorrer nos seus seguros derivado dos efeitos acima mencionados, pelo que se torna essencial no momento da contratação/ renovação dos seguros automóvel refletir no seguinte:
A atenção dada à valorização correta do bem seguro – automóvel - irá permitir, em caso de sinistro, uma regularização mais pacífica no que respeita a apuramento de danos/indemnização, e dessa forma repor o lesado na situação idêntica à que existiria caso não ocorresse o acidente.
É um setor que merecerá um olhar atento e de acompanhamento dado que, ainda não é fácil perspetivar quando voltará à sua normalização, uma vez que depende e é influenciado pelos fatores acima elencados. Por outro lado, as perspetivas macroeconómicas não são as mais favoráveis, podem levar a uma quebra na procura de produção nova de automóvel (inflação, aumento taxas de juros, ...) e a um consequente reajuste do mercado de veículos usados e seminovos.