Os recentes números da economia chinesa mostram os resultados das mudanças no perfil e foco do país em relação ao seu crescimento. Desde o lançamento do 14º Plano Quinquenal (2021-2025), a China tem se concentrado em promover um desenvolvimento de alta qualidade, o que eleva o ritmo de modernização do país e gera grande impulso à economia mundial, incluindo o Brasil.
Projeções divulgadas no início deste ano mostram um crescimento em torno de 5,5% para 2022, o que, aos olhos de muitos, é visto erroneamente como uma desaceleração no ritmo, já que o país tem apresentado um crescimento médio de cerca de 10% ao ano nas últimas décadas. Uma eventual análise que induz a acreditar que a China está perdendo sua força econômica é bastante equivocada, uma vez que o interesse agora é um crescimento focado muito mais na qualidade do que na quantidade.
A tendência é que a China não cresça mais de dois dígitos nos próximos anos, isso porque não se está buscando o crescimento numérico acima de tudo, e sim com foco em trazer qualidade de vida para a população. Esse objetivo já aparece detalhado em metas no plano quinquenal que está apoiado em oito grandes pilares como pesquisa e desenvolvimento, equilíbrio da riqueza da sociedade, manter a taxa de emprego em até 5,5% e aumentar a expectativa de vida e urbanização.
No caso do estímulo à urbanização, o fato de se ter mais pessoas saindo do campo e indo para as grandes cidades vai demandar um aumento do consumo. Espera-se que ao final de 2025, 65% da população esteja morando nos centros urbanos. Isso tem impacto positivo para o Brasil que vai continuar vendo uma necessidade de exportação de várias commodities tanto minerais como alimentares. Entre os produtos mais exportados para a China estão o minério, o ferro, a soja, o óleo, a proteína animal e a celulose.
Em 2020, a balança de comércio Brasil-China alcançou U$ 102 bilhões. Em 2021, esse comércio bilateral foi para U$ 135 bilhões, um crescimento de mais de 33% em relação ao ano anterior. Nos últimos 10 anos, o Brasil sempre teve um grande superávit comercial com a China, sendo uma exceção em relação aos outros países que mais importam do que exportam para o país.
Os chineses também estão investindo fortemente na promoção do desenvolvimento verde/ecológico. Neste cenário, o Brasil pode ser uma matriz importante, por exemplo, por meio dos investimentos da China na área de energia renovável. O país já possui uma capacidade instalada relevante no Brasil que por sua vez atrai esse tipo de oportunidade de negócio devido à grande variedade de recursos energéticos disponíveis. Até 2021, mais de 14 empresas chinesas de energia haviam investido ou estavam com projetos de construção no Brasil e o foco maior fica nas fontes renováveis como energia eólica e solar.
Também se destaca a promoção do desenvolvimento por meio da iniciativa Belt and Road Initiative (One Belt One Road - Um Cinturão Uma Rota), que consiste em uma série de investimentos em infraestrutura conectando Oriente Médio, Europa, África e Ásia. E em 2019 aconteceu a chegada do Belt and Road Initiative na America Latina. Com isso, nos últimos três anos temos visto mais de U$ 30 bilhões de dólares de novos investimentos na América Latina com destaque para as áreas de energia, mineração e infraestrutura, além de energia renovável, como citado anteriormente.
Há também interesse por parte da indústria automotiva. No início do ano ocorreu o lançamento oficial da Great Wall Motors (GWM), empresa que comprou a fábrica da Mercedez Benz no interior de São Paulo, para produzir principalmente carros elétricos. A empresa vai investir no Brasil mais de R$ 10 bilhões e garantir a geração de cerca de dois mil empregos até 2025.
Esses são apenas alguns exemplos de como a economia brasileira pode se beneficiar de forma crescente com o desenvolvimento sustentável chinês. Para perseguir esse caminho do crescimento de alta qualidade a China está colocando uma abordagem mais centrada na constante melhoria da vida da população, em uma filosofia mais focada na inovação compartilhada e na promoção do desenvolvimento ecológico, entre outros. Nessa trajetória, o Brasil certamente terá muito o que contribuir, crescer e se modernizar.